Em primeiro lugar quero pedir desculpas pela minha ausência. Foram três semanas muito agitadas aqui em casa, e aconteceu um pouco de tudo dentro delas, inclusive o falecimento de um parente. Essas coisas acontecem, né? Mas não quero falar sobre coisas ruins, então esse assunto finaliza aqui.
Mais de vinte anos atrás, moramos perto de uma senhorinha muito simpática, chamada Dona Delma. Ela, o marido e o filho moravam no apartamento acima do nosso. Na época minha mãe saía muito pra caminhar na praia, e algumas vezes foi junto com ela. Uma vez ela fez uma receita de curau e mandou lá pra casa. Pra quê, né? Minha mãe, que sempre foi louca por coisas de milho (puxei pra ela, tá vendo?) quis saber como ela tinha feito.
Numa tarde calma, enquanto meu irmão estava na escola, ela ensinou a receita pra minha mãe. A partir daí, sempre que conseguíamos uma boa safra de milho, lá estava minha mãe, fazendo um panelão de curau e distribuindo pra quem estivesse perto. Mas essa história não para por aí...
Milho verde (espiga) debulhado e cru (não cozido)
No caminho do sítio da minha avó, que íamos quase todo fim de semana, sempre parávamos num lugar que tinha na estrada, o rancho Trevo da Pamonha. Não faço idéia se ele ainda existe, mas sempre passávamos lá antes de voltar pra casa pra comprar doces a base de milho verde: sorvete, bolo, curau e pamonha. Minha mãe gostava principalmente do curau e do bolo, mas como já sabia fazer curau, comprava só o bolo.
Mas essa história do bolo um dia teve fim. Porquê teve um dia que ela começou a tentar fazer o bolo em casa, e de tanto tentar, sem querer, com um acidente, descobriu o ingrediente que faltava: bagacinho de milho. É isso aí. O bolo que ela que ela tanto gostava, era feito com as palhinhas, casquinhas dos grãos de milho que sobravam na peneira após fazer o curau. Dá pra acreditar nisso? E desde aquela época, quando tinha curau, também tinha bolo de milho.
Bagaço (palhinha) que sobra na peneira após coar o curau
E assim, em toda festa junina, fosse no sítio, fosse em família ou amigos, fazíamos essas receitas, além de milho cozido, bolo de mandioca, cocadinha e amendoim crocante. É. A gente sabia entreter as panças, rs...
Preciso avisar que a proporção do curau é de 5 espigas grandes (e não muito verdes) para 1 litro de água, ou de água com leite ou só de leite (se quiser também pode usar uma parte de água e de leite de coco). Foi assim que a Dona Delma ensinou minha mãe. E um dica sobre cortar os milhos: não corte rente demais ao sabugo, senão vai ficar pedaços dele junto com as palhinhas e não vai ficar muito bom no bolo. A receita do curau pode ser dobrada ou dividida sem nenhum problema, e a do bolo acredito que também dê certo.
Para o curau
1kg de milho verde (espiga) debulhado e cru (não pode ser milho cozido)
1 1/2 de água
1/2 litro de leite integral
3 1/2 xícaras de açúcar (se for refinado, um pouquinho menos)
3 paus de canela
Canela em pó para decorar
Bata aos poucos, no liquidificador, o milho com a água e o leite. Coe o líquido batido em uma peneira, e despeje o líquido na panela. Reserve o que ficar na peneira para fazer o bolo.
Na panela com o milho batido e coado, acrescente o açúcar e os paus de canela. Leve ao fogo médio, e vá mexendo com uma colher de pau ou espátula, até levantar fervura. Abaixe o fogo, e vá mexendo até o ponto de engrossar (virar um mingau grosso).
Dica: Dependendo do tipo de espiga que for usada, é possível que o curau fique mais ralo ou mais grosso. Quanto mais verde o milho for, menos amido vai soltar, e mais ralo o curau vai ficar. Se a espiga estiver mais pra madura, vai soltar um pouco mais e engrossar mais o curau. Despeje em potinhos ou uma travessa refratária (resistente ao calor) e polvilhe com canela em pó. Deixe esfriar e depois leve para a geladeira. Não sei bem o rendimento, mas dura na geladeira uns 5 dias.
Para o Bolo
590g de bagacinho/palhinha de milho
4 ovos
2 xícaras de açúcar
3 colheres (sopa) de semente de erva doce
400g de farinha de trigo
6 colheres (sopa) (cheias) de manteiga ou margarina
4 colheres (chá) (cheias) de fermento em pó
Unte e enfarinhe uma forma redonda com furo central (forma pra pudim) alta com 20cm de diâmetro. Em uma tigela, acrescente o bagacinho de milho, os ovos e o açúcar e misture muito bem. Acrescente a farinha e a erva doce e misture muito bem. Misture a margarina, e depois o fermento em pó. Despeje na forma, e leve ao forno (190ºC) por 1 hora. Cuidado para não assar demais, e nem de menos. O teste do palito ajuda, mas se assar demais ele pode ficar ressecado. Deixe esfriar na forma de 15 a 20 minutos e desenforme. Sirva com chá ou café. É um ótimo substituto para o bolo de fubá e fica ótimo morninho no café da manhã.
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